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Um brinde aos melhores anfitriões do Domingo!






Na minha família, nunca realizamos uma grande festa ou algo que passasse de vinte pessoas. Na verdade, meus pais sempre tiveram certo receio de aglomerações dentro de casa. Até porque nossa casa é minúscula (cheia de móveis) e meus pais não são do tipo de pessoas que sejam reconhecidos pela sua hospitalidade e receptividade.
Não estou criticando meus pais, na verdade eu sou uma das piores anfitriãs do universo. Afinal, estas formalidades que a sociedade inventou de estar sorrindo eternamente para os convidados, ficar oferecendo o que comer e o que beber o tempo inteiro e dizer “ainda é cedo” para as pessoas que estão querendo ir embora nunca foi do meu feitio (eu até tento ser agradável, mas uma em cada cem vezes obtenho êxito).
Confesso que meus pais tentam ser agradáveis, mas minha mãe tem uma mania excessiva de estar limpando tudo e pânico estragar os móveis da casa de maneira absurda e o meu pai tem uma espécie de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) de ver coisas fora do lugar (ou seja, crianças vocês não são bem vindas – risos). Meu irmão tenta ser agradável com as pessoas, utilizando alguns métodos nada ortodoxos, como por exemplo: falar mal de mim e do meu pai, debochar do meu desemprego e falar sobre suas conquistas “heroicas” de ter sido promovido do emprego e de estar fazendo uma faculdade EAD.
Minha avó que tem uma personalidade que particularmente não sinto-me capaz de definir com palavras, cumprimenta as pessoas de forma agradável (bem diferente da forma que ela nos trata) e se afasta sorrateiramente até chegar em sua casa e lá fica isoladamente ouvindo seu rádio. E eu, com os meus momentos oscilantes de assuntos relevantes e de um profundo desejo de estar em silêncio, utilizo meus queridos gatos como desculpa para fugir de ocasiões que envolvam assuntos como: sexo, bebidas, espiritismo e carros. Há momentos também que utilizo o meu celular para procurar amigos que não falo há décadas, pois acho que naquele momento é pertinente falar com eles.
Ou seja, se formos fazer um campeonato para escolher o melhor anfitrião aqui em casa, com certeza ninguém ganharia.
Mas aconteceu que, meu irmão resolveu fazer uma formatura para o curso técnico dele (o que eu acho totalmente desnecessário, pois não fiz na minha) e no pacote uma grande festa convidando os familiares da namorada dele e os nossos.
·         Total de convidados: quarenta e poucos.
·         Pessoas apavoradas: três (minha mãe, meu pai e eu).
·         Pessoa planejando mundos e fundos sem ter dinheiro algum: uma (meu irmão).
·         Pessoas consumindo seu tempo dizendo que não havia possibilidade de uma festa em um ambiente tão pequeno: duas (eu e meu pai)
·         Pessoa dizendo que daria tudo errado: uma (minha vó).
 Eis que então a festa aconteceu. Num grande calor (em torno de 40 º C, acredito eu) e com muitas pessoas apertadas numa área, garagem e cozinha. Três cômodos e mesmo assim não era suficiente. Confesso que no final das contas ocorreu tudo na normalidade, porém, muitas pessoas ficaram desconfortáveis com o excesso de calor e o grande número. E iniciei ali o meu sublime momento de contemplação e apreciei minuciosamente a personalidade de cada pessoa.
Pessoas tão diferentes reunidas pelo mesmo objetivo. Pessoas nas quais carregam em seus semblantes marcas, histórias de vida, traumas, angústias, alegrias, fraquezas. E isso me fez lembrar daquela singular e incrível personagem das histórias de Agatha Christie, a velhinha Miss Marple, que dizia ser uma “profunda conhecedora da natureza humana”, por viver em um vilarejo chamado St. Mary Mead e que lá era um pequeno cenário de todas as situações inusitadas do mundo.
E depois de um dia tão corrido como esses, no qual achei que minha timidez entraria em um colapso no qual nunca mais iria se ajeitar, eu posso dizer que venci este domingo. Venci de um modo esplendoroso, pois eu não pude recorrer aos meus gatos (pois todos eles sumiram com o excesso de pessoas) e não utilizei meu celular (pois não havia sinal de Internet), por isso a contemplação foi a melhor saída.
Concluindo, tudo que posso dizer deste dia é que o venci (é importante enfatizar isto), não me senti péssima por ser deste jeito (no fim das contas senti orgulho de me comportar desta maneira ao ver a situação de outras pessoas) e pude perceber que estar sóbria é a melhor coisa para você não se comprometer nem se tornar uma pessoa cansativa-às-pampas-por-estar-bêbada.

This is it (isto é tudo), queridos!

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